quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Justiça em Crise

Patrícia Acioli morreu por exercer com rigor sua função de juíza.
Tim Lopes morreu por realizar sua função de jornalista.
Os investigadores e delegados do caso Araceli foram todos mortos e o caso está sem solução desde 1978.
Todos os envolvidos na tentativa de desvendar o crime da menina desde esta época morreram.
Chico Mendes morreu lutando como ambientalista  pelos seringais e contra forças poderosas. 
Enfim Patrícia Acioli, espero não seja mais uma remota lembrança. São muitos casos de injustiça e impunidade. Apurar os crimes e desvendar os autores será o mínimo para um assassinato que coloca a faca no pescoço da justiça. O que será de nós se quem julga corre risco de vida? Esse recado é avassalador.
Já faz tempo que sei que a justiça julga com medo dependendo do caso. Vivi isso no meu dia a dia profissional. Até então imaginei ser uma questão particular, ou situações relacionadas a crianças e adolescentes.
No Brasil apenas 4% dos crimes praticados contra crianças e adolescentes são punidos. 
O problema é que no caso da juíza os bandidos são a polícia.
Na verdade os dois diferem - se por suas fardas.
Uns de distintivo e outros com bermudões e bonés.
Moram nas mesmas comunidades, normalmente crescem e vivem juntos. Antigamente se dizia que eram da mesma classe social. Os salários pagos pelo tráfico são muito maiores que os pagos pela segurança pública. Assim, hoje é comum que saibamos de policiais aliciados pelo crime organizado para trabalhar nas duas pontas: segurança e tráfico.  
Crianças normalmente sonham ser jogadores de futebol e policiais. Atualmente há uma outra categoria que os atrai. O "trabalho de ser  traficante".
Traficantes nas comunidades entregam cestas básicas para os mais carentes, providenciam remédios e advogados para os necessitados, cuidam para que não hajam crimes sexuais contra crianças e os punem com rigor a seu modo quando ocorrem.
Já os policiais vem ofertando medo e terror.
Cometem crimes fardados, dão tiros a esmo, praticam extorsão, enfim demonstram ser o avesso do avesso.
Patrícia Acioli disse a uma das mães que ela atendeu que: "enquanto vida eu tiver vou lutar por justiça". Ela o fez e os vinte e um tiros que recebeu representam a maioridade plena da prática de crimes que ficam impunes. Ou que supõem seus autores ficarem impunes. 
A maior luz que pode haver na democracia é a reparação dos crimes praticados. Não há democracia onde existirem crimes impunes e balas perdidas. Assim não há justiça. Torço para que possamos servir de holofotes através de nossos olhos, ouvidos e bocas. Precisamos desejar e pedir a luz para o caso da juíza. A justiça nesse caso é urgente e necessária. Sem o que a justiça brasileira e a democracia estarão na UTI correndo risco de morte ou de ficar em coma profundo para o resto da vida. Respirando por aparelhos e com morte cerebral. Precisamos não ter medo pois o medo nesse caso é o medo do medo que não vai deixar a vida fluir.


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