sexta-feira, 3 de junho de 2011

Vida de Caminhoneiro

Um grave acidente na BR 376 parou o trânsito por cerca de duas horas. Inevitável não conversar com as pessoas em volta para saber o que aconteceu, se alguém tem notícias, enfim. E aí de conversa em conversa, surgem as histórias. Estávamos há aproximados 50 Km de Joinville, já em Santa Catarina e há cerca de 760 km de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul.
Ligando o rádio soubemos que o que havia nos parado na estrada era um grave acidente que envolveu dois caminhões e três carros. Tudo estava pegando fogo há aproximadamente 1 Km e meio de nós. Assim, restava esperar a liberação de parte da pista para seguirmos viagem. Ao meu lado na estrada um caminhoneiro que a princípio não estava muito disposto a conversar. Depois de quinze minutos resolveu se aproximar e aí...
Tinha como destino do dia andar mais 800 km. Olhei para o relógio, 14 horas. Isso significava andar até aproximadamente 4 da manhã. Perguntei como ele aguentava e disse que dormia aos poucos, cerca de uma hora de vez em quando. Inevitável que esse assunto trouxesse o acidente que nos paralisava a caminhada pela estrada afora.
O caminhoneiro seria responsável pelo acidente. Ponto. Ele disse que havia lido uma pesquisa que informava que em 90% dos acidentes nas estradas do Brasil estavam envolvidos caminhões. Falamos um pouco a respeito da liberdade de acesso à drogas que permitem aos caminhoneiros permanecerem acordados tantas horas.
Ele informou que, em qualquer lugar de beira de estrada que é parada certa de caminhoneiro, tem " o que a gente quiser". Isso emendou uma conversa sobre o drama do risco de perder a vida em nome de prazos de entrega de cargas e em nome de algumas cargas.
Ele carregava grafite para indústrias de Joinville. Esse material é necessário para a fabricação de produtos como auto peças.
As estradas mais perigosas para roubos de cargas de qualquer natureza são as de São Paulo. Informou que no Rodoanel quando o trânsito pára, surgem pessoas do meio do mato e arrebentam os cadeados das carrocerias e vale tudo. Ele disse que a fama da Bahia e alguns outros estados do nordeste acerca de roubos  é uma "judiação" perto do que acontece em São Paulo. Ele especializou - se em transportar tratores mas só pode rodar entre 6 da manhã e 9 da noite. Porque no interior de São Paulo eles roubam tratores e essa carga só é garantida pelas transportadoras até esse horário. Qual o custo de cada trator que ele carrega? De 100 a 120 mil reais e ele leva três por vez.
Quanto pagam para roubar? Segundo me disse, cerca de 30 mil reais por cada trator. "São os donos de fazenda". Para ele quem são os donos de fazenda? "Gente muito rica, políticos e gente que tem poder. Enfiam um trator daqueles dentro de uma fazenda que tem léguas e léguas e ninguém mais acha. Eles compram com o preço de um pelo menos três." "E político é assim, fazem leis para eles mesmos não cumprirem. Eles tem influência e dinheiro e além de tudo conhecem muitos bandidos".
Contou ainda da prisão de comerciantes do Rio Grande do Sul que estavam ampliando seus mercadinhos para Supermercados e, descobriu - se, por comprarem cargas e mais cargas roubadas. Lucro garantido de muito mais de 100% nas mercadorias. Foram presos, mas respondem em liberdade, afinal eram primários.
Diante daquele sol lindo de um dia que se encaminhava para ser cada vez mais gelado me deparei com o silêncio estridente daquelas histórias. Desejei boa sorte ao trabalhador que sonha mesmo é em ser motorista de ônibus interestadual porque só precisa trabalhar seis horas sem descanso. O trânsito começou a andar e eu fui meu destino sem conseguir esquecer a conversa daquele gaúcho de Canoas.

2 comentários:

  1. O papo até que foi bom pois surgiu uma hitória interessante que não sai nos jornais, pena que vc ficou parada na Br e demorou muito mais a chegar no seu destino.

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  2. Pois é, papo bom e demorei a chegar, mas as duas coisas juntas fizeram a história mesmo.

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